domingo, maio 26

A voz do Amor

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Romantic girl by Paolo Neo
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Outro dia eu vi uma lágrima em seus olhos se formando, em seguida vi seu rosto se tensionando. Aquela lágrima, que traduziria igualmente a dor, a alegria e o amor, por pouco não rolou. Neste mesmo dia eu ouvi Bilac sussurrando ao meu ouvido:


A voz do amor

Nessa pupila rútila e molhada,
Refúgio arcano e sacro da Ternura,
A ampla noite do gozo e da loucura
Se desenrola, quente e embalsamada.

E quando a ansiosa vista desvairada
Embebo às vezes nessa noite escura,
Dela rompe uma voz, que, entrecortada
De soluços e cânticos, murmura...

É a voz do Amor, que, em teu olhar falando,
Num concerto de súplicas e gritos
Conta a história de todos os amores;

E vêm por ela, rindo e blasfemando,
Almas serenas, corações aflitos,
Tempestades de lágrimas e flores...

 Fonte: BILAC, Olavo. Antologia : Poesias. São Paulo : Martin Claret, 2002.

 
“Inexplicavelmente”, de vez em quando, entre um verso e outro, um soneto me cai nas mãos. Este me deixou especialmente encantado. Um lindo soneto, de ninguém menos que o “cravejador de versos”, o “ourives da palavra”, parnasiano irrepreensível, “Príncipe dos Poetas Brasileiros”, Olavo Bilac.
***
O Modernismo libertou a poesia da armadura dos clássicos, felizmente, nossos modernismos estão permeados de classicismos. Ainda bem!
 
Tenham boa semana!