domingo, fevereiro 28

Chifres em cabeça de...

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Amigos, adoro os grandes mestres da pintura e escultura, tais como Rafael, Michelangelo e Da Vinci. Michelangelo era um artista completo. Aliás, creio que todos conhecem a obra acima. A foto é da estátua de Moisés, o patriarca hebreu, obra prima de Michelangelo. Conta a história que a escultura ficou tão real que seu escultor ao contemplá-la acabada bateu-lhe no joelho e bradou: Fala Moisés! Algo assim, em italiano, claro.

Mas se os colegas pensam que irei falar de arte... Pelo menos não deste gênero. Este exemplar da destreza e do perfeccionismo de Michelangelo foi esculpido em mármore em 1513. Observando-se a imagem como um todo, de relance, não se percebe nada de estranho. Agora observem em detalhe a cabeça da estátua. Se necessário, copiem a imagem e apliquem zoom. Perceberam agora? Você já sabia!
Gente, prá quem não conhece, esta é a imagem de Moisés o patriarca dos judeus, literalmente um santo homem, esculpida em mármore. A estátua, que tem mais de 2 metros de altura, possui um par de chifres! Não é montagem. Esta é a foto da peça que se encontra na igreja de San Pietro in Vincoli, lá em Roma. Alguém já leu nas Escrituras ou em qualquer outro lugar que Moisés tinha chifres? Afinal é Moisés ou é um ser diabólico?

De onde vem os chifres? Explico. Na verdade trata-se de um erro gravíssimo. Não do escultor, mas do “escritor”. Ora, se o artista teria que esculpir a imagem do patriarca e o modelo vivo já não era vivo, a descrição mais fiel que ele poderia obter do modelo estava nas Escrituras Sagradas. Então, Michelangelo lançou mão da bíblia mais respeitável de sua época, padrão da Igreja Católica, a Vulgata Latina e mandou ver no cinzel. Sim, mas e daí?

A Vulgata Latina é a versão das escrituras, Velho e Novo Testamento, traduzida por São Jerônimo, a partir dos manuscritos nas línguas originais, no final do sec. IV d. C., a pedido do Papa Damaso. No livro Êxodo 34: 29-35, desta tradução, Jerônimo, santo Tradutor, cometeu um pequeno grande engano, ou erro, de interpretação, Hermenêutica, Ecdótica, Crítica Textual ou como queiram chamar, pois, na verdade, isto tudo está embutido no processo de tradução.
São Jerônimo
Fonte: Wikipedia

Por desconhecimento ou descuido, o fato é que ao traduzir os manuscritos originais do hebraico para o grego, São Jerônimo ignorou que dependendo da vocalização a palavra hebraica Karan (resplandecer) pode tornar-se Keren (chifres) e acabou optando por usar o termo cornuta (do latim, chifres). Na tradução da Vulgata ficou assim, da sua cabeça cresciam chifres, ao invés de seu rosto resplandecia. E o erro, entre tantos outros, se perpetuou. Felizmente, mais tarde vieram as revisões e correções, mas aí Moisés já estava com chifres e ninguém seria louco de destruir uma obra daquelas (ou seria? sei lá, tem louco prá tudo!).
Portanto amigos na hora de referenciar a obra de outros para criar a sua sempre confronte opiniões e fontes diferentes, pois nem santo está livre de erros de interpretação, compilação ou avaliação. Palavra de santo, ninguém contesta, mas quem sou eu! Aliás, aquí prá nós, se São Jerônimo tivesse Internet talvez isto não tivesse ocorrido.
Ps: existem outras versões da história, porém nesta Michelangelo não tem nada a ver com os chifres de Moisés.
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