domingo, setembro 6

Negócio de Ocasião

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Quando mandou colocar mármore no chão de seu apartamento, o vizinho de baixo veio reclamar. Às oito horas da manhã os operários começavam a quebrar mármore em cima de sua cabeça. Durma-se com um barulho desses!

-Está bem, está bem concordou ele, acalmando o vizinho. Vou mandar começar mais tarde.

Mandou que os operários só começassem a trabalhar a partir das 9 horas. Dois dias depois tornava o vizinho.

Assim não é possível. Já reclamei, o senhor prometeu, e o barulho continua!

Mas é só por uns dias, argumentou ele:

O senhor vai ter paciencia...

E mandou que os trabalhos só se iniciassem a partir das dez horas. Com isso pensava haver ter contentado o vizinho. Para surpresa sua, todavia, armado de revólver.

Ou o senhor para com esse barulho ou eu faço um estrago louco.

Olhou espantado para a arma e, cordato, convidou-o a entrar:

-Não precisa se exaltar, que diabo. Vamos resolver a coisa como gente civilizada. Eu disse que era só por uns dias... Se o senhor quiser que eu pare, eu paro. Cuidado com esse negócio, costuma disparar. Qual é o calibre?

-trinta e dois.

-Prefiro trinta e oito. Mas esse parece ser muito bom...Que marca?

-Smith-Wesson.

-Ah! Então deve ser muito bom. Cabo de madrepérola... Quanto o senhor pagou por ele?

-Cinquenta.

-Não foi caro. Sempre tive vontade de ter um revólver desses. Quem sabe o senhor me venderia?

-Não vim aqui para vender revólver , explodiu o outro, mas para lhe avisar que esse barulho...

-Não haverá mais barulho, esteja tranquilo. Agora, quanto ao revólver... Quer vender?

-O senhor está brincando...

-Não estou não, pela vida de minha mãezinha. Quer saber de uma coisa? Dou cem por ele. Sempre tive vontade... Vamos, aceite! Cem, ali na bucha, pago na hora.

O homem começou a titubear. Olhou o revólver, pensativo: cem era um bom preço. Já pensara mesmo em vende-lo... Olhou o dono da casa, tornou a olhar o revólver.

Toma é seu, decidiu-se.

Antes de entrar na posse da arma, o comprador foi lá dentro buscar o dinheiro e estendeu-o ao vizinho. Depois empunhou o revólver e chegou-lhe aos peitos.

Bem, agora ponha-se daqui para fora. E fique sabendo que eu faço o barulho que quiser e quando quiser, entendeu? Venha aqui outra vez reclamar e vai ver quem é que acaba fazendo um estrago louco.

Fernando Sabino


Desejo a todos uma semana produtiva



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