segunda-feira, novembro 10

O Real e o Virtual

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Recebi esse texto por email e resolvi colocar no blog, com a autorização do autor.

O Real e o Virtual

A cada dia; mais e mais lan houses, salas de Internet, e outros points do gênero, de aparente legitimidade, são livremente abertos em áreas residenciais e vizinhanças de escolas, aliciando mentes férteis, porém ainda sem rumo, para um mundo de ilusões. Em detrimento de magníficos projetos de vida arquitetados por pais bem intencionados e cônscios de suas responsabilidades para com o futuro daquelas vidas, esses falsos encantos vão esvaziando bancos escolares. Neste conflito, é comovente ver a luta desesperada de pais, que apesar de reconhecerem a sua impotência diante dessas tendências nocivas, não desanimam e argumentam em favor de um equilíbrio salutar entre o real e o virtual.

Num passado muito distante, sonhava-se voar e viajar a mundos distantes, no entanto, hoje o homem cruza os sete mares e curte o prazer da volta para casa, sem ter se deparado com sequer um monstro marinho. Voar, prazer antes só permitido aos pássaros, já foi ficção; na atualidade, o homem “anda nas nuvens” e pousa suavemente, fazendo do retorno à terra um prazer a mais. Quantas donas de casa sonharam um dia poder acender um fogo dentro de casa, sem lenha e sem fumaça, para cozer os alimentos; hoje temos fogões a gás, elétricos e de microondas. Como se pode depreender pela simples observação do quotidiano, as ferramentas à disposição do homem evoluíram a olhos vistos, porém ele próprio não mudou nada: continua o mesmo mortal, vulnerável, incompleto, e insatisfeito.

Embora saibamos que essa insatisfação sempre existirá, pois resulta do sonho, que move o ser humano, estamos certos de que esse sonho jamais se confundirá com a realidade, porque o primeiro é intangível e a realidade é material, fisiológica e cruel: só se vive uma vez. Na vida real não se consegue “upar”, como dizem os aficionados por jogos eletrônicos, nem ganhar vidas ou conquistar a imortalidade. De nada nos servirão todos os castelos conquistados ou monstros derrotados na virtualidade dos games. O homem não pode ser desconectado da realidade.

Assim, após não mais que três ou quatro horas de completa imersão neste mundo de lazer virtual, nós seremos derrotados pelo inimigo mais elementar da condição humana, o qual você poderia estar ajudando a combater: a fome, um dos fantasmas malthusianos que assolam a humanidade neste mundo real. Nesta hora, lembramos que por trás de tanta alienação há alguém dando suporte à vida. Então você clama pelo jantar, por um lanchinho, ou qualquer coisa que possa remuniciar o guerreiro e fazer um up grade na situação lastimável do seu corpo. Você perdeu! O virtual perdeu para o real de goleada!

Em termos de atividade virtual, parece um pouco de presunção afirmar que vivenciamos alguma coisa. A atividade virtual quer seja em computadores, games, palms, laptops, e-readers, ou qualquer outro dispositivo que permita comunicação e interatividade, jamais substituirá a tão prazerosa atividade real, como descer de rapel no meio de um paraíso ecológico, tomar banho de cachoeira num dia escaldante de verão ou passar a tarde num shopping, por exemplo. Aliás, para muitas mulheres, fazer compras talvez seja a mais prazerosa de todas as atividades. Bom, isso é outro assunto! Portanto, nada que se diga virtual poderá igualar-se ao prazer de viver; saborear uma pizza, tomar um refrigerante bem gelado, ver seu filho mergulhar numa piscina de bolinhas ou andar com ele no carrinho de autopista, enfim, sentir as emoções da sua vida, ao invés de ficar sonhando com outras vidas. A atividade virtual, contrapondo-se à realidade muitas vezes, é criada a partir dela, porém dela nos arrebata inadvertidamente em favor de devaneios.

MSN, Orkut, Blogs, Flogs, dentre tantas outras atrações da net, são ferramentas de última geração que, em princípio, estão aí para facilitar nossa vida. De nada nos adiantaria ficarmos horas diante de um computador, com todas essas ferramentas à mão se nossas vidas fossem um completo vazio. Que experiências de vida teríamos para contar? Talvez conseguíssemos produzir algum discurso como: blz? Aí, na moral? Fuuii!

A atividade off-line – vida - jamais se confundirá com a on-line - cibernética. Ambas caminharão juntas, pois, por mais que a tecnologia evolua, as atividades cibernéticas sempre dependerão de energia e de suporte técnico. Embora a cada dia menos, sempre haverá demanda por suporte humano à máquina. Luddismos à parte, humanos e máquinas coexistirão, cientes da eterna dependência um do outro e de suas respectivas relevâncias.

Infelizmente, num mundo globalizado, ou globalizando, com perspectivas de população de 9 bilhões para 2050, segundo dados da ONU, e com a crescente automação e virtualização da atividade produtiva, não haverá lugar para todos os nerds e hard core users da computação. “Meia dúzia” serão os escolhidos enquanto a grande maioria comporá a escória.

Viver mergulhado em games e net, achando que isso, por si só, é o futuro, é compartilhar do “Admirável Mundo Novo”, um hipotético mundo futurista, sem ética e sem valores morais, imaginado por Aldouls Huxley, onde impera a ditadura da tecnologia, mentes são controladas e manipuladas, e onde as pessoas experimentam uma felicidade artificialmente induzida por drogas.

Sua mente neste momento talvez esteja igual a este texto, permeado de idéias estrangeiras que tomaram de assalto a Língua Portuguesa. É um processo invasivo destruidor.

Dizer que viver “conectado” é viver o futuro e que “o futuro é agora”, como fazem muitos game addicts, é admitir que o futuro chegou e não fizemos absolutamente nada, que não saímos do lugar, enfim, não evoluímos. Assumir que o “futuro já começou” é atestar um estado de latência, de vida vegetativa. Caiamos na real! O futuro será sempre um porvir; nós o construiremos. E nessa empreitada, esperamos poder contar com você para combater os muitos monstros que ele nos reserva e conquistar os castelos necessários à sobrevivência da raça humana, tais como: moradia, emprego e alimentação. Pois o futuro pode esconder os piores monstros que o Apocalipse já descreveu, portanto, viver apenas na virtualidade é abrir mão de lutar; é literalmente jogar a toalha!

Muito embora existam centenas de mega-empresários, do ramo dos softwares ou dos silicon chips, travestidos de cordeiros e tentando alienar sua mente para que você pense ao contrário, a Informática e a Internet, assim como milhões de outras ferramentas foram criadas para facilitar a nossa lida e a conquista de um lugar à sombra. Não deixe que estas ferramentas sejam instrumentos de alienação, submissão ou escravidão tecnológica. Administre melhor o seu tempo. Suas horas de lazer e prazer foram conquistadas à custa de muita luta; muitos trabalhadores deram o sangue por elas. Não abra mão disso!

Antônio Ivan Rodrigues Barreto
Professor Tradutor Inglês/Português